Conta a lenda que nasci no Enclave de Cabinda, no seio de uma família numerosa, no dia 10 de Novembro, corriam os fabulosos anos 60, marcados, sobretudo, por grandes transformações comportamentais, nomeadamente o surgimento do feminismo e do movimento Hippie que, movidos pela busca da paz interior, defendiam um mundo sem fronteiras e sem propriedade privada. Anos que ficaram também marcados pelo aparecimento de movimentos sociais e de libertação que lutaram pelos direitos civis que se repercutirem seriamente no comportamento do ser humano e na música dessa década.
De Angola saí com 12 anos, vim para Portugal, onde a minha adolescência foi vivida em plenos anos 70, num conjunto de vivências distintas. Uma educação esmerada, cheia de princípios e de valores, muitos deles passados, diariamente, pela mãe, que plasmaram com toda a certeza a minha vida.
Quando menos esperava, esbarrei no diagnóstico de um quadro clínico maligno que crescia silenciosamente, descoberto num simples exame de rotina sem apresentar sintomas… enfim!
A descoberta desprendeu inicialmente algumas reações devastadoras, exaltando emoções, desequilíbrios e conflitos internos que além de causarem uma amargura árdua que queima a alma, resultaram em tormento, angústia e medo.
Sorte destruidora, injusta que transformou em adversidade dias, tardes, fins de tarde, noites de boas vibrações.
Pensava que certas coisas só aconteciam aos outros, porém, para os outros, nós também somos os outros… e agora sentia-me sem chão…. É incrível como as coisas mudam nesta vida!
Fui assaltado por pensamentos distorcidos que fluem na mente insistentemente, influenciando de forma negativa emoções e comportamentos.
Pensar que o pior iria acontecer, focalizar a atenção em aspetos negativos do diagnóstico, antecipar dificuldades, criar expectativas negativas de situações que provavelmente nem viriam a acontecer. Atormenta!
Passei a conviver com o impacto da assimilação da “lesão”, afastando-me de ambientes tóxicos, para precaver o meu bem-estar e para limpar também o que de ruim se produzira.
Todavia, a ansiedade inquieta… ah! A ansiedade era tanta, que já se manifestava fisicamente: isolamento, medo e angústia constante! Somava mais tristezas do que alegrias, era essencial travar a vitimização e algumas suscetibilidades.
Passei a conviver com outro tipo de medos. Porque na verdade já vivemos num mundo reprimido pela cultura do medo, no qual tememos e sofremos por antecipação, desde crianças.
O certo é que crescemos familiarizados com o medo. Quando somos crianças, os nossos pais incutem-nos algum medo, na educação especialmente – quando não queríamos comer a sopa (se não comes a sopa vem aí o bicho), o medo do escuro, das pessoas desconhecidas, do homem mau, das bruxas, dos fantasmas e assim por diante.
Na fase escolar o medo prossegue – o medo de tirar notas negativas, de reprovar o ano letivo, etc… Na fase adulta o medo de não conseguir emprego, de perder o emprego, o medo de não encontrar um novo emprego e o medo do chefe. O medo de errar, o medo de estar na direção do dedo apontado, o medo de não ser aceite pela sociedade, o medo do comentário e da crítica, o medo de pecar! Numa outra fase da nossa vida, continuamos sob a cultura do medo: medo de um diagnóstico de saúde, o medo da morte, o medo de perder os nossos pais, os nossos filhos e o medo de não conseguir lidar com as perdas e com os diagnósticos de saúde.
É um dos maiores tormentos que temos enquanto sociedade: a tensão sobre este sistema da cultura do medo.
A cultura do medo é a melhor forma de manobrar as pessoas e, talvez por isso, é muito utilizada para controlar o povo e com isso se consegue restringir a nossa liberdade, a nossa tranquilidade, o nosso bem-estar!
Percebi, rapidamente, que era fundamental encontrar estratégias para enfrentar os medos e que uma atitude mental positiva seria da maior importância para me ajudar a amenizar os dias inquietos, mas sobretudo as noites intranquilas e aprender a lidar com todas essas situações.
É importante combater o medo e apostar nos diagnósticos precoces, sem medo do resultado dos exames. A medicina preventiva mantém a saúde em dia. É importante surpreender a doença antes que ela bata à porta. Cedo percebi que é melhor um tratamento preventivo de que um tratamento curativo.
Diante de todo este desgaste, aprendi, que o corpo doente precisava de uma cabeça sã… só assim, creio eu, poderia ajudar o corpo a encontrar um melhor bem-estar e, simultaneamente, sentia que precisava de algum incentivo para ultrapassar tudo isso.
Foi nesta altura que estimulado por técnicos da área da saúde e por alguns amigos, abracei este projeto pessoal, como suporte para conviver com a doença, convencido de que poderia uma importante fonte de suporte e conforto para, durante o período de sofrimento, proporcionar um maior equilíbrio diante das adversidades: o Blogue, na busca de pontos de equilíbrio, especialmente, do meu próprio equilíbrio.
… E um dos meus equilíbrios encontra-se não só nas minhas qualidades enquanto ser humano, mas, sobretudo, na forma como aprendo a contornar frustrações, desmotivações, adversidades, aproveitamentos, falta de resultados e também os resultados de todas as minhas escolhas. Escolhi o “respeito” com o objetivo de cultivar a tolerância e escolhi, igualmente, estar disponível para os outros com o objetivo de cultivar o amor, a amizade e a partilha.
Passei e passo por várias emoções, tento ultrapassar obstáculos, tento enfrentar problemas e tento encontrar a melhor solução para cada situação.
Viver tudo isto faz parte da nossa caminhada, da nossa aprendizagem e crescimento.
A vida é feita de momentos de alegria, de superação e também de renovação. E tudo muda mais depressa do que imaginamos.
Com as novas tecnologias e a correria do dia-a-dia, muitas vezes, desviamo-nos daquilo que é verdadeiramente essencial, do olho no olho, daquilo que faz bem ao espírito e une pessoas.
Partilhar alegrias, medos, vitórias, derrotas e emoções, faz parte das nossas vidas e nós precisamos dessa ligação, precisamos de comunicar, de nos comunicar e estarmos mais presentes na vida uns dos outros, sobretudo daqueles que se aproximam com boas vibrações e que nos aceitam tal qual somos, sem fazerem muitas perguntas.
Entretanto, mais um ano de vida se passou. Parabéns para mim…Estou a envelhecer, é certo, mas neste momento nada é tão saboroso e gratificante do que conquistar mais um aniversário. São 365 dias e noites de oportunidades e em cada um delas vivi experiências distintas… alguns dias foram simples, leves e com algum bem-estar, outros foram árduos, complicados e até tristes. Em alguns dias senti-me desprotegido, mas em boa parte deles tive a felicidade de ter pessoas por perto.
Apesar destes últimos anos não terem sido aprazíveis, e ter vivido alguns momentos penosos, houve sempre algo que me fazia sentir grato.
O que me faz sentir grato faz-me crescer e é esse crescimento, essa aprendizagem que me ajuda a contornar a montanha e me incentiva, sem dúvida nenhuma, a procurar e reconhecer o meu bem-estar.
Parabéns para mim! Sinto-me bem por celebrar mais um ano de vida, nada é tão gratificante como a conquista de mais um aniversário.
Encontrei e redescobri pessoas, lutei, luto, superei, supero desafios que não esqueço!
… e hoje sinto-me bem por celebrar o meu aniversário. Comecei por aceitar o convite do meu compadre Miguel Ângelo para almoçar, o que muito me alegrou. Depois do lusco-fusco, quando a noite caiu a Inês Maria, a Maria de Lourdes, o Miguel Ângelo, a Heloísa Apolónia, o Toquim Gouveia e a Maria Dulce, família e amigos encontramo-nos à volta da mesa, para desmontar uma bela sentada/repasto, no Restaurante Batata Doce. Um espaço de família que não tem chefes famosos, menus de degustação caros, garrafeira de vinhos premium, nem a pretensão de ser mais do que é, mas tem o essencial e aquilo de que preciso neste momento: um lugar de partilha de histórias, de palavras e de sorrisos verdadeiros! Por isso fiz questão, nesta noite de celebração, de postar no meu Blog, em direto, o artigo que conta a história/estória de Isabel Batata Doce. A história da menina angolana que foi encontrada pela tropa portuguesa no mato, em plena Guerra de Libertação, e trazida para Portugal. É uma história de amor e por ser tão arrebatadora fiz questão de postar no meu dia de aniversário. O Review, permite-vos conhecer e saborear esta “estória” que me/nos apaixona.
Talvez por ter escolhido estar disponível para os outros, na liquidez do tempo, associei o meu aniversário a um gesto solidário: apadrinhei o projeto “Conhecer para Ajudar” que visa a construção de escolas na Guiné Bissau. A entrevista concedida ao programa Bem-Vindos e o Review, que escrevi sobre este projeto, dão corpo e sentido ao que acabo de referir.
Hoje é meu aniversário! Sopro as velas com gesto solidário, é no fundo tão pouco, talvez pudesse fazer muito mais…Gosto de aniversários, acredito que é uma honra ter nascido e isso tem que ser celebrado. Queria partilhar com vocês a alegria que me dá o 10 de novembro e seguir em frente para os últimos meses do ano com muita boa energia.
O ato de brindar, para mim, está fortemente ligado ao vinho porque traz uma rica carga simbólica.
Quem aprecia vinho, como eu, tem a particular felicidade de associá-lo a momentos de convívio e amizade. À volta do vinho vamos criando relações, conhecendo pessoas que nos marcam de alguma forma. O vinho tem esta virtude, a de unir pessoas.
Para este momento de celebração escolhi Premier Hibenus – Brut (do Bowls&Bar), Medici Ermete Le Tenute Bocciolo Grasparossa e Tangente – Vinho Tinto Regional Alentejano, ambos gentilmente oferecidos por Bruno Gomes.
Quero um novo começo de era. Quero saúde, tranquilidade, mais qualidade que quantidade. Quero pessoas altruístas, elegantes e sinceras, com aptidão para dizer mais sim do que não!
Acredito na força daqueles que não se acomodam, dos que descruzam os braços, dos que não se limitam a viver vidas pequenas, construídas de satisfações próprias. Acredito na força das boas energias. Acredito na força daqueles que conseguem lutar contra os medos (mas a dos outros também), na força dos heróis que procuram mais humildade do que reconhecimentos. Esses são os que constroem o mundo, esses são os que alteram o sentido, esses são capazes de semear beleza, disseminar conforto e bem-estar neste mundo!
Hoje é meu aniversário, tento ser um destes homens e integrar este grupo que faz coisas que dão sentido à vida, que me fazem chegar ao fim de cada dia com a certeza de “eu hoje fiz isto”! …fortalece. Olhe que bom, que é…
Eis a celebração de mais um aniversário, simples e puro como o sorriso de Isabel Batata Doce. Sem protagonismos, mas com humildade, a celebração de mais um aniversário com nobreza de carácter, como o compromisso com a lealdade de familiares e amigos aliados a atitudes solidárias para incentivar todos aqueles que privam comigo (e aos outros também) a ajudar o próximo. Algo que possa fazer a diferença na vida de alguém. Contribuindo, eventualmente, para aliviar o sofrimento de alguns e honrar todos os homens e mulheres que se dedicam a ajudar os outros.
Os princípios humanos, de alguns, levam-me a acreditar que as pessoas continuam a ser muito mais importantes que uma noite de copos, uma festa pop, um lugar aprazível, uma ida ao cinema, uma ida à praia, ao teatro, um sunset! Tudo isso não pode contar mais que as pessoas, que os amigos!
… Parabéns para mim!
Agradecimento: Isabel Batata Doce,João Manuel Castanheira, Bruno Gomes e Kate (Bowls&Bar).
Crédito :Miguel Silva
Styling: Coordenados: Antony Morato & Samissone.