“MODA ÁFRICA” O RETRATO DA CRIATIVIDADE AFRICANA!

A equipe do Blog “A Boa Vida Persegue-me” marcou presença na MODA ÁFRICA – Semana da Moda Étnica, que decorreu, em janeiro, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Uma iniciativa promovida pela AMA – Associação Moda Africana – também a fundadora do Ateliê de Alfaiates Africanos -, em parceria com a escola de moda Modatex.

Para quem não conhece, o Ateliê de Alfaiates Africanos é um projeto de inclusão social de imigrantes de origem africana, a viver em Portugal, que pretende retirar os alfaiates da pobreza e da ilegalidade, proporcionando-lhes melhores condições de trabalho. Esta profissão de “alfaiate”, a arte de costurar roupas, feita essencialmente por homens, é exercida, especialmente, para garantir a sobrevivência, sendo, sem dúvida, o garante do sustento de muitas famílias africanas, nomeadamente na Guiné-Bissau, Guiné Conacri e Senegal.

A este nível e na senda da solidariedade, não posso deixar de referir a vertente social que este evento assumiu ao aliar a “2.ª Edição da Moda África” a uma causa social, concebida para arrecadar fundos para apoiar o Atelier Alfaiates Africanos na formação de alfaiates imigrantes, que residam em Lisboa, tendo em conta que muitos deles se encontram a viver no limiar da pobreza e a laborar em condições muito precárias.

Está é uma particularidade da Moda África que despertou o meu interesse: “quando a solidariedade se junta à arte e à moda”, o fundamental nestas coisas é a autenticidade que poderá nascer e o espírito de entreajuda que floresce. De tão simples que é, torna-se imenso! Os sonhos são construídos; são caminhos a percorrer…

Creio, na minha humilde opinião, que é uma boa inspiração para a época em que vivemos.

Além deste detalhe, estamos perante a um evento ímpar de moda africana que cresce de ano para ano, e que, em 2017, deu o salto e começou a sair do casulo com a realização da sua 2.ª edição. É a moda africana a dar cartas e a mostrar o seu grande valor.

O evento mostrou e promoveu não só a moda, as cores radiantes e vibrantes dos tecidos e as suas texturas, que inspira e exala sedução e magia, mas também contou histórias de uma África diversificada, uniu pessoas e reuniu mundos, incluindo estilistas vindos de países que não integram a África dos PALOPS, conseguindo-se, assim, uma maior abrangência da diversidade criativa do continente africano.

Cada estilista, com a sua forma de trabalhar as “fazendas”, com produções únicas onde se misturam diferentes texturas e padrões, sussurraram a sua própria história, a sua cultura, os costumes e as tradições. É o traço cultural da moda para refletir a cultura e estilo de vida africano.

No fundo, os designers acabam por ser os verdadeiros mensageiros e mediadores multiculturais entre a África e o resto do mundo. Contribuem, sem dúvida, para uma projeção positiva da África.

Muito embora, quando se houve falar em tecidos africanos, o primeiro impulso seja associar os panos à marca holandesa Vlisco. No entanto, existe uma história em torno dos tecidos africanos a considerar.

Este mito criado em volta da “Fazenda Africana”, que supostamente é holandesa e que não existe “Fazenda Africana,” faz-nos refletir sobre os “fazedores de fazendas” africanas artesanais. Cada país tem o seu: o “Kente”, por exemplo, é um tecido produzido pelas etnias “Ashanti” e “Éwé”, no Gana, e, em Angola a Samakaka, tecido típico produzido pelo povo Muíla (província da Huila), são testemunhos das fazendas africanas artesanais.

Todavia, as fazendas africanas têm conhecido novos caminhos e os criadores, sem abandonarem as suas raízes, claro, estão a seguir outros trilhos, a abraçar novas ideias e a movimentarem-se em direção ao mundo. A moda africana está a reinventar-se… e de forma bastante positiva!

A edição deste ano da Moda África, colocou as tendências africanas e os seus criadores à mostra. Durante o fim de semana, 14 designers africanos participaram no evento, sendo que 8 dos criadores presentes são lusófonos. Omar Adelino, de Moçambique, Braima Sori Ba, da marca BSB, da Guiné, Siwana de Azevedo, da marca Rogue Wave, de Angola, Sandra Bravo Rosa, da marca Joan Auguni, de Angola, Irina Diniz Ferreira, da marca Ikilomba, também de Angola. Ainda de África, mas fora dos Palop’s: José Hendo, do Uganda, Nikola Conradie, da Namíbia, Adama Paris, da República Democrática do Congo/Senegal, Liz Ogumbo (estilista/cantora), do Quénia, e Osuare, da Nigéria.

Entre os participantes, figuraram criadores emergentes que revelaram já algum talento, como Alfa Umaro Cante, da Guiné, Lubetina Makunge, com a marca Mak, de Angola, Mathilde Me-We, da Costa de Marfim, e Bula, da Guiné.

Nestes dois dias de moda, as coleções apresentaram-se com um misto entre o tradicional e o contemporâneo europeu moderno. No fundo, surgiram na passerelle algumas misturas com tecidos europeus, materiais e texturas que combinam padrões, cores, que ousam, inovam e criam estilos próprios. Uma abordagem que se mostrou bem-sucedida no Instituto Superior Técnico!

Entre os estilistas e as marcas que inovaram com os seus desfiles estão:

JOSE HENDO

 Apresentou a coleção de Outono- Inverno, ” Motto Silhouette” inspirada na palavra japonesa que significa, a origem, a causa, e a fundação. As silhuetas desta coleção refletem formas que escondem a forma do corpo humano, mas transmitem o mistério e a intriga que excita e fascina o espectador.

 O estilo prático e descontraído com formas surpreendentes, futuristas e experimentais misturam tradições autenticas com design moderno e simples que permite uma finalização volumosa e inesperada.

 Um olhar intemporal, assimétrico, preto sob preto, com tecidos orgânicos, dados pela mãe natureza como a cortiça e o cânhamo, com uma abordagem de zero resíduos, harmonizam com acessórios como cintos de segurança reciclados ou pedaços de chão usados em superfícies industriais. Com uma assinatura única, as surpreendentes peças desta coleção são manipuladas com bordas irregulares e costuras em bruto de diferentes e inesperados formatos com um design em constante construção.

 A coleção é dedicada à memória do seu pai Mr. P.K. Bahemuka.

SANDRA BRAVO ROSA

Sandra Bravo Rosa, da marca “Joan Auguni”, inspirada em si mesma, levou à passerelle a colecção “Freedom/Liberdade” ao som de gospel. Apreciadora de tecidos fluidos, leves e da estampa africana, a estilista na 2.ª Edição da Moda África usou tecidos como Sablé, Rendas, Mousseline, Wax e peças pintadas a mão pela artista plástica Márcia Dias, foram as suas grandes apostas. Num espectáculo que incluiu música, com a participação do Grupo de Gospel “kumossi” a criadora surpreendeu o público com um desfile misto. 

A coleção assinada por Sandra Bravo Rosa dá atenção especial à família, apresentando peças para homem, mulher e criança que  não deixaram convidados e amigos indiferentes.

Deram corpo às peças da estilista, atores como, Sílvio do Nascimento e Lialzio Vaz de Almeida, o artista plástico Armando Scoot e as modelos, Ana Bonfim, Linda Cardoso, Emiliana Kamanda e Nádia Sofia.

O desfile foi muito aplaudido e a coleção cativou o público pela originalidade.

 … E para encerrar o primeiro dia da ModaAfrica, a estilista escolhida foi Adama Paris, com a colecção “Alma Antiga”.

 ADAMA PARIS

 Adama Paris na sua colecção misturou búzios com outros materiais, construindo-se a partir de formas modernas que espelham a diversidade cultural. Segundo a criadora: “espiritualmente nas lendas africanas, búzios simbolizam a poderosa deusa da protecção. O tecido acolchoado que usei dá uma aparência futurista. Grosso, mas transparente, este tecido torna-se um com o espirito do búzio, tão protetor como glamoroso”.

 2.º Dia

O segundo dia da Moda África ficou marcado pelas criações de Siwana de Azevedo, BSB, Irina Diniz Ferreira, Omar Adelino, entre outros, mas também pela participação dos novos criadores de moda.

SIWANA DE AZEVEDO – MARCA ROGUE WAVE

 

Siwana de Azevedo, estilista angolana da marca Rogue Wave, surpreendeu com uma coleção inspirada no seu País, Angola, no calor humano do povo angolano e no conceito de família. Que reivindicaram cores vivas e ricas da sua terra, visível na escolha dos tecidos e pela utilização da estampa do pano típico a “samakaka”, o mapa de Angola nas estampas e as cores da bandeira de angola, deram a conhecer o lado tradicional e étnico da moda, mas simultaneamente contemporâneo. 

Segundo Siwana, o tema, da sua marca Rogue Wave: “foi muito óbvio, a minha belíssima e amada Angola, por toda sua beleza, por toda sua história, por toda sua garra, por toda a sua riqueza de boa gente, que carrega consigo para todo lado aquela boa energia, por toda a sua beleza e riqueza natural”.

A boa energia do desfile ficou marcado com os modelos a desfilarem sensualidade ao som de ” Atchu Tchu Tcha” de Yuri da Cunha e encantou os convidados e amigos.

 O ponto de partida para a coleção foi o conforto e a Designer misturou texturas e tecidos com diferentes técnicas, do pret a porter and couture, ao drapeado e origami, com acabamentos de alta qualidade. Os tecidos usados foram o chiffon, sablé, cetim, malhas, renda, algodão, tule e bordado zardosi.

 A coleção apresentada por Siwana de Azevedo, ficou também marcada por utilizar a “Samakaka”, que apesar de tipicamente Africana surgiu com um design contemporâneo europeu. As estampas angolanas e as cores captaram o espirito alegre e conferiram sintonia e modernidade.

 Entre os acessórios, destaque para as joias feitas manualmente com materiais que combinam o tecido Africano reciclado com o Ouro, a prata e o couro. A atitude, a versatilidade, a cor e o requinte presentes quer na coleção de noite quer na de praia deslumbraram e transmitiram a mensagem de força da sua “amada” e belíssima Angola.

As criações e a “boa energia” dentro e fora da passerelle da estilista encantaram os convidados e amigos.

 BSB – BRAIMA SORI BA

Estilista de origem guineense, Braima Sori Ba, com a marca BSB, apresentou a colecção “Funky Line”, para a colecção utilizou o algodão e a lã.

 Irina Diniz Ferreira da marca Ikilomba

Irina Diniz Ferreira, estilista angolana, inspirada na mulher angolana e na sua importância social e cultural na comunidade apresentou a coleção “Fusão”, com base na união entre a cultura africana e a europeia.

Segundo a estilista, “as coleções nascem da ligação entre os cortes europeus com os estampados africanos”.

Irina, criou duas marcas a Ikilomba, que é roupa feita sob medida e Iki by Ikilomba, que é a marca de pronto-a-vestir com base no conceito de vestir “pais iguais aos filhos”.

Para a estilista, a marca Ikilomba, define a moda com um toque de personalização, desenvolvendo peças personalizadas para cada cliente e cada ocasião.

Quanto à marca IKI by ikilomba, foi desenhada, especialmente, a pensar nas famílias. Utilizando padrões africanos que dão um visual harmonioso, ideal para as famílias numerosas que gostam de vestir os seus filhos a condizer. A coleção parte do contraste primordial do branco/preto, simbolizando a dualidade presente em todos os elementos, e é complementada por acessórios e apontamentos com estampados africanos.

Irina Diniz Ferreira, referiu, ainda, que “ambas as marcas pretendem ser a ponte entre África e a Europa, mantendo as raízes culturais e elevando a moda através do uso de tecidos europeus que permitem aos clientes a expressão da sua identidade através de cortes clássicos e elegantes”.

OMAR ADELINO

Moçambique esteve muito bem representado pelo estilista Omar Adelino que, no segundo dia, apresentou a sua colecção “I AM”, com inspiração focada no SER.

A cor preta dominou a colecção, utilizando tecidos como o linho geano, a renda e plissados oferecendo elegância e discrição, completado por ornamentos como pedras cristalizadas, cristais swarosk e lantejoulas.

 NOVOS CRIADORES DA MODA AFRICANA

A Moda África ganha expressão na apresentação de criadores emergentes. É assim que crescem novas expectativas.

 MÉ-WÉ PARIS

Mathilde Me-We, estilista da Costa do Marfim, da marca MÉ-WÉ PARIS, apresentou a colecção “Conopy”.

ALFA CANTE

O estilista guineense Alfa Conté, que em 2015 foi considerado o melhor estilista de África, trouxe a sua marca Fashion Canté com a colecção “Afro-Asia”.

BULA

Lausiana Santos, da marca Bula, trouxe-nos a colecção Etnicidade, inspirada no multiculturalismo onde a mistura de panos africanos com padrões de diferentes países.

LUBETINA MAK

Lubertina Mak, estilista angolana, apresentou a colecção “Dreams and Memories” uma colecção de alta costura onde o pano africano é utilizado para expressar a cultura africana.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

João Ramos – pelo trabalho que tem vindo a desenvolver, não só como fotógrafo, mas também, em outras áreas essenciais do Blogue. 

Onésimo Costa – Fotografia

Juvenal Candeias – Fotografia

Edgar Freire – Fotografia

Tánia Sitoe – cedência de algumas fotografias

Solange Sousa/Pedro Oliveira – Vídeo

O RETRATO DA CRIATIVIDADE AFRICANA

FORA DA PASSERELLE REGISTAMOS: MODA, ESTILO E CONVÍVIO. VEJA AS FOTOS!