“CANTAR DE AMIGOS” – TOZÉ BRITO

 

12670155_10201496382768801_1322998918013055581_nAntónio José Correia de Brito, mais conhecido por Tozé Brito, é o atual administrador da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores. Porém, este AMIGO, que me inspira, é conhecido por todos nós, não pelo cargo que ocupa na SPA, mas antes pelos projetos musicais que abraçou e que permitem um “Cantar de Amigos”, através da palavra escrita, o material essencial da sua arte.

As histórias por detrás de cada canção são variadas e hoje, sem hesitar, Tozé solta as palavras e fala abertamente da vida, família, amigos e canções.

… assim este amigo de longa data, com uma mão cheia de canções e amigos, concede uma entrevista intimista ao Blog “A Boa Vida Persegue-me”.

… Piano e palavras, dois elementos essenciais para este “Cantar de Amigos”!

Apraz-me muito que o teu pensamento e as tuas opiniões, estejam espelhados neste meu/nosso Blogue.

Vamos começar pelos teus dados biográficos, pode ser?

12512546_10201496393849078_8488176854937365988_nTozé: Vamos a eles. Nasci no Porto, a 25 de agosto de 1951, e por lá vivi – feliz – até 1969, quando, a convite do José Cid, vim morar para Lisboa e passei a integrar o Quarteto 1111. No Porto, entretanto, tinha sido um dos fundadores do Pop Five Music Inc., com quem toquei de 1967 a Outubro de 1969. Os três anos seguintes passei-os a tocar com o 1111, a dar literalmente a volta ao mundo, como elemento do grupo, e datam desses anos as minhas primeiras composições e gravações a solo, já que a primeira EP foi gravada em 67, com o Pop Five.

No final de 1972, decidi ir viver para Londres, onde trabalhei como tradutor, estudei Psicologia, casei e fui pai duas vezes, e, em Outubro de 1974, já após o 25 de Abril, pude regressar a Portugal, cumprir o serviço militar durante o ano de 1975, e reintegrar o Quarteto e os Green Windows, que deram lugar ao Gemini, a partir de Dezembro de 76. Depois vieram os anos como gestor da Polygram, BMG e Universal, nunca descurando a minha actividade como autor e compositor, no fundo o que mais gosto de fazer. E assim continuo, hoje na administração da SPA, escrevendo canções e sendo feliz fazendo aquilo que mais prazer me dá. Podia entrar em mais pormenores, mas o mais importante está dito. Falta só acrescentar que fui avô pela quinta vez há quatro meses, o que aos 64 anos me deixa ainda mais feliz.

Família, Canções e Amigos é assim que alimentas a tua memória?

12669429_10201496380528745_3318095434774889883_nTozé: Sem dúvida que a minha família, os amigos e a música, formam os alicerces da minha memória. Mas os lugares que visitei, as culturas que conheci, os livros que sempre li e as paixões que vivi são e serão para sempre inesquecíveis.

Como se iniciou a tua carreira musical?

Tozé: Com o Grupo 4, um grupo de amigos do liceu, de onde “saltei” depois para o Pop Five.

Tendo em conta, que fizeste parte de alguns projetos musicais como o Quarteto 1111, Gemini e Green Windows, antes de começares a cantar a solo, qual é a experiência que trouxeste destes grupos?

Tozé: A maior experiência que um grupo nos dá é a de partilha, a de trabalhar em equipa e respeitar as ideias dos outros, a de fazermos parte de uma pequena família onde todos têm necessariamente de se respeitar e remar para o mesmo lado. É uma lição de vida sem preço.

Fizeste duetos com outros artistas como o Paulo de Carvalho. Há alguma música que te tenha marcado especialmente?

Tozé: É-me muito difícil escolher uma música, uma canção, de entre as cerca de 400 que compus ou escrevi… Obviamente, algumas tiveram na minha vida uma importância muito maior que outras, mas em muito poucos casos as que mais populares se tornaram e foram grandes sucessos comerciais são aquelas de que mais gosto…

Como e quando surge a vontade de iniciar uma carreira a solo?

12647138_10201496381208762_5801878530921952209_nTozé: Em 1971 gravei o meu primeiro disco a solo. Desde sempre escrevi canções a pensar nos grupos que integrei e outras a pensar em mim, numa estética musical que não a desses grupos. Sempre encontrei espaço para a actividade em grupo e a solo em paralelo, sem que uma prejudicasse a outra.

Dedicaste alguns anos a escrever e a criar projetos musicais para outros músicos de diversas vertentes, interpretadas por diferentes nomes do panorama musical português. O que significa para ti seres o responsável da primeira Girls Band Portuguesa, as Doce?

Tozé: Como atrás disse, escrever canções, compor, é aquilo que mais gosto de fazer. Foi um passo perfeitamente natural deixar de pensar só nos grupos por que passei e para os quais escrevi, e começar a fazê-lo também para dezenas de intérpretes portugueses e não só.

As Doce nasceram da necessidade que sentimos, eu e o Mike, quando o Gemini terminou, de encontrar um projecto onde a Fá e a Teresa, nossas companheiras no Gemini, pudessem continuar activas na música. Como director de A&R da Polygram foi-me fácil fazê-lo, com a ajuda inestimável de muitos amigos que foram também essenciais para o sucesso das Doce.

O que te inspira quando escreves para outros cantores?

Tozé: Primeiro conhecê-los e conhecer as suas paixões. Depois juntar-lhes as minhas, e acima de tudo pensar para que público se destinam, porque cada cantor tem o seu público específico, com o seu gosto específico. Desta mistura, quando estamos inspirados, saem as melhores canções.

 Quais os colegas que te marcaram mais? Poderias contar alguma pequena história com algum deles?

Tozé: Trabalhei com tantos e tão bons, que acho que vou “passar” esta resposta…

12640346_10201496366208387_5424652662599920945_oMas não, é quase impossível não mencionar aqui todos os amigos e músicos com quem toquei no Pop Five e no Quarteto 1111, destacando o Zé Cid e o Mike, meus “irmãos”, e depois o Paulo de Carvalho, o Zé Carlos Ary dos Santos, as Doce, a Lúcia Moniz e a Ana Moura. Cada um à sua maneira e por diferentes razões foram muito marcantes nestas cinco décadas de música. As histórias com qualquer um deles e com muitos outros não têm fim, mas, passe a publicidade, se comprarem o livro “As lendas do Quarteto 1111”, vão ler histórias incríveis.

Como te sentes mais realizado, na pele de intérprete, compositor, editor ou administrador da SPA?

Tozé: Senti-me e sinto-me completamente realizado por ter sido capaz e competente para vestir todas essas peles, muitas vezes, simultaneamente. Esse é um dos meus maiores factores de orgulho. Mas se tivesse que escolher uma só pele, seria sempre a de autor/compositor.

Paralelamente a isso, sei que estás a escrever um livro… que podemos esperar deste livro?

Tozé: Para já sou apenas – e não é pouco – escritor de canções. Mas não é segredo que há já algum tempo tenho vindo a tomar (muitas) notas para o que um dia, espero, será o meu primeiro livro, isto porque gostava de ter tempo para escrever mais dois ou três…12631483_10201496383448818_8805910808694028784_n

Quando começaste a escrever?

Tozé: Canções, há 50 anos! O livro de que falámos está a nascer.

Ao olhar para todas as canções que escreveste e para todos os momentos da tua vida, quais são os que mais importância tiveram? Que memórias guardas? Podes partilhar?

Tozé: De tudo o que vivi, nada foi ou é mais importante que as pessoas com quem partilhei esses momentos da minha vida. Tudo o que fiz, se o tivesse feito sozinho ou sem destinatários, não teria qualquer interesse.

Que critérios estão sempre na base das tuas escolhas?

Tozé: Critérios de prazer e de dor, os contrários da morte.

Quais as renúncias que tiveste de fazer para te entregares aos teus projetos, à música? Tiveste de abdicar da vida pessoal? Podemos falar em compensações?

Tozé: Tudo aquilo a que renunciei ou de que abdiquei é insignificante quando comparado à felicidade que as minhas escolhas me proporcionaram.

O que te apaixona mais no teu dia-a-dia? E na vida?

Tozé: Mais uma vez, apaixonam-me as pessoas, as viagens que faço, a música, a literatura, o desporto, a gastronomia, o meu país… A minha família eu amo, está um degrau acima das paixões.

Como organizas a tua vida, os teus tempos livres, as viagens e a tua vida familiar?

Tozé: Organizo cada vez menos, sou cada vez mais desorganizado…

A família, os pais, as filhas e os netos… podes falar deles sem pestanejar?

Tozé: Já está. De olhos bem abertos.

O que há ainda para fazer, construir, conquistar… para dizer?

Tozé: Quase tudo. Quanto tempo tenho?!

12642734_10201496382368791_4228137582978787810_nEncontramo-nos já no século XXI. Consideras que até aos dias de hoje o homem realizou grandes progressos e o mundo avançou?

Tozé: Claro que sim, por cada passo atrás o homem dá dois em frente. E estou cada vez mais interessado na física quântica…

Que soluções sugeres para os problemas que nos afetam? Se achas que há problemas, claro.

Tozé: Todos os grandes problemas que nos afectam têm por base a desigualdade.

Se o mundo resolvesse este problema, seria infinitamente melhor.

12592246_10201495086656399_3359475264795674751_nA Lisboa Mulata é uma rubrica deste Blogue. Esta Lisboa mulata diz que a vivência do ontem e do hoje com as ex-colónias possui importantes caraterísticas no cenário musical, que a música étnica trás ritmos quentes. Achas que estreita os laços musicais, culturais entre Portugal e o mundo?

Tozé: Tenho um orgulho imenso na nossa Lisboa Mulata. Penso que isso diz tudo do que penso dela.

No que toca a música, sentes que houve alguma fusão entre os ritmos étnicos/africanos e os ritmos europeus, tradicionais portugueses?

Tozé: É óbvio que sim, e cada vez essa fusão é maior e mais perfeita!

Sentes que a música portuguesa tem sido moldada por um leque abrangente de influências?

Tozé: Sem dúvida, há décadas que o é, e, como disse atrás, cada vez o é mais.

Como vês a nova geração de músicos portugueses? Há estilos que ficam para trás? Que conselhos lhes podes deixar?

Tozé: Há, como sempre houve, grandes músicos portugueses. O único conselho que lhes dou é que não deixem de acreditar que é possível viver da música e fazê-la cada dia melhor. Foi com essa convicção, contra tudo e contra todos os que estavam contra, que vivi e vivo da música desde os meus 18 anos.

Sabes a “Boa Vida Persegue-me”, e a ti o que te persegue?

Tozé: Persegue-me a vontade de ser feliz. Persegue-me o verbo acreditar. Persegue-me o Verão que irá chegar.

Agradeço muito o tempo que me dedicaste e sobretudo, a grandiosidade de pessoa que és e todo o sentimento do teu trabalho e a forma como nos tratas a todos…. És GENTE que me inspira!

Hoje, a nossa voz vai chamar-te “Meu Amigo. Vai dizer que todos nós somos mais por estar aqui contigo”.

O meu abraço maior.

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